Este depoimento é de Natália Pinheiro, uma das idealizadoras do Dyke Fest. As fotos dessa matéria são um registro da terceira edição do Festival por Marcela Guimarães.
“Sou publicitária e produtora cultural, por muito tempo estive em espaços mais “burocráticos”, coletivos, reuniões de muitas horas e construção de atos como a Caminhada e a Visibilidade Lésbica, entre outros, mas nunca deixei de ir em festivais de hardcore/punk, com o tempo fui me afastando da burocracia e me conectando com a possibilidade de passar a nossa mensagem por meio do som, poesia e intervenções. Comecei a introduzir tudo que aprendi no encerramento da Caminhada Lésbica de São Paulo com artista e bandas que estavam começando a tocar, me envolvendo na montagem do palco, na produção e foi um caminho sem volta.

Junto com outras mulheres construímos o Maria Bonita Fest, um festival com foco em hardcore/punk feminista, conheci ainda mais mulheres incríveis, a relação entre as bandas e produtoras é muito solidária e todas se ajudam muito. E quando finalmente você está inserida nesse espaço você percebe que pode priorizar certos discursos.

Queria fazer da minha atuação como produtora uma extensão da minha vida, posicionamentos políticos e falar cada vez mais sobre feminismo através da ótica das mulheres lésbicas que querem pensar gênero, sexualidade, identidade, classe, raça.
Foi aí que o Dyke Fest surgiu, no começo era só eu e a minha companheira na época, Bru Isumavut, o fest foi o resultado de todo o nosso acúmulo político, até aquele momento, e a semana da visibilidade foi o espaço temporal que escolhemos pro festival acontecer. Logo depois da primeira edição se juntaram ao organizativo Jéssica Silva e Miah Silva, amigas que fizemos durante o primeiro festival e a Karine Campanille que conheci na construção de outro festival que se chama Resistência Transviada.


Esse ano em especial, fizemos uma edição extra pra aproveitar a vinda das meninas do Anti-Corpos, banda que dialoga com os valores do festival e com o nosso posicionamento queer que foge daquele descrito nos livros, mas tem forte relação com a união e com a rebeldia da população LGBT frente aos inúmeros retrocessos que estamos sofrendo.


O primeiro festival foi feito com quem tava por perto e a base de muita pesquisa, achar bandas de hardcore/punk com protagonismo lésbico não foi algo muito fácil. Eram poucas as bandas e muitas estavam em outros estados e a gente não tinha um real no bolso, mesmo assim, arriscamos e trouxemos a Bertha Lutz de BH, chamamos a banda Sapataria que tava bem no começo, a banda Crowd e acelerei a minha banda pra gente consegui tocar até a data do festival e fechar o line up. Depois da primeira edição muitas bandas começaram a aparecer ou até mesmo voltar. Hoje a gente até consegue fazer curadoria pro festival, no qual o fator mais importante é o posicionamento da banda e se eles se alinha com os nossos valores.

O Dyke Fest é um espaço de valorização e disseminação da cultura lésbica

Feito por nós e para nós, rompendo com todo estereótipo que nos foi reservado já que seguimos sendo fetichizadas nas ruas e na mídias e nossa sexualidade segue sendo infantilizada e banalizada, pois a sociedade patriarcal só acredita no modelo heteronormativo de relação e afeto. Esse modelo legitima assédios, violências e a nossa total invisibilização, colocando a nossa vida em risco a todos os momentos.”

A próxima edição vai ser no dia 30 de agosto com Sânias, Tuíra (RJ), Crime Caqui, Rastilho e Miêta (MG) na Associação Cultural Cecília.